Por Cris Lacerda
Já em 1994, a 2ª Conferência de Educação Computacional e Multi-ambientes de Educação na Universidade de Atenas projetava que “o professor do futuro é um professor de história”, mas a história que precisaria ser ensinada seria a história da Tecnologia da Informação.
Desde lá, já se discutia o quanto a enorme quantidade de informação fragmentada criada pelas mídias contemporâneas – como a TV e a internet – tornava cada vez mais difícil ensinar aos jovens a importância da aprendizagem formal e o pensamento com foco e clareza. Haveria uma mudança da condição das redes de internet de um cenário baseado em texto – incentivador da literatura e da comunicação por meio da palavra escrita, em direção a uma condição multimídia, cuja maior influência seriam imagens digitais como vídeos, sons e gráficos.
Devido ao futuro uso da internet, para orientar essa enorme quantidade de informação gráfica e digital que estudantes encontrariam dentro e fora da escola, o professor deveria agir como um filtro, um provedor de perspectivas e caminhos. Sobre esse papel a ser desempenhado pelo professor do futuro, não havia dúvidas de que a internet proporcionaria um enorme potencial para novas ideias e um renascimento na educação mundial. Mas uma questão permanecia diante dessa transformação digital da educação: seriam os professores meramente “provedores de conteúdo” ou teriam um papel muito maior e muito mais crítico a desempenhar no futuro?
A conferência de 1994 apontava que professores não apenas teriam que tornar este sistema educacional digital equilibrado, mas também teriam que criar uma abordagem de aprendizagem que colocasse o novo mundo digital em um contexto compreensível. Os professores teriam que ensinar não apenas a sua disciplina, mas o próprio processo de educação. Quase 30 anos depois, em meio a um dos maiores desafios da nossa geração diante da pandemia de Covid-19, nunca essa discussão sobre internet, ambientes de educação e o papel do professor se mostrou tão atual e importante quanto em 2020.
O isolamento social imposto pela atual pandemia acelerou enormemente a necessidade de novas habilidades para profissionais de educação no contexto da 4ª Revolução Industrial – termo que define uma mudança radical marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas que transformará por completo a forma como vivemos, trabalhamos, nos relacionamos e, como vimos neste ano, também como ensinamos e aprendemos. Diante desse complexo cenário de transformações, não demorou para que muitos chamassem o “professor do futuro” de 2020 de o “Professor 4.0”. Termos à parte, o que realmente isso significa? Quais são ou serão essas novas habilidades necessárias a profissionais de educação diante de uma transformação digital que não mais se refere ao futuro e, sim, se fez rapidamente presente?
No cenário pós-pandemia, será preciso estar preparado para a evolução não apenas do sistema de ensino-aprendizagem, mas também do professor. Para além de “colaboração”, “resolução de problemas”, “criatividade e inovação” entre outras habilidades apontadas nos últimos anos como essenciais para o futuro, podemos reunir em diversas fontes e estudos na web algumas das habilidades do “professor do futuro”. Essas habilidades emergem de diferentes contextos diante de tecnologias que introduzem novos métodos de ensino, e compartilhamos aqui algumas que encontramos:
O futuro da educação envolverá tecnologia, e como vimos em 2020, não será pouca. Novos recursos tecnológicos assumirão a sala de aula e profissionais de educação terão que estar cada vez mais preparados para o seu uso e controle. Não adiantará ignorar as novas tecnologias: será preciso estar aberto para o uso de diferentes ferramentas e recursos, de redes sociais a novos softwares e plataformas. Quanto mais o professor dominar novas tecnologias, até mesmo mais seguro será para os estudantes, pois as crianças e jovens de hoje já estão um passo à frente no uso de mídias e ferramentas digitais e muitas vezes não têm alguém no mesmo patamar para recorrer se algo der errado.
Em diversas instituições, os sistemas de gestão escolar já haviam se tornado digitais… agora é a vez do professor. Conforme a tecnologia invade a sala de aula, ela também elimina o uso de papel. Precisaremos reconstruir o nosso imaginário da sala de aula tradicional, pois a aula sem papel se tornará a nova “sala de aula tradicional”. O trabalho do profissional de educação não mais estará baseado em livros físicos e papéis organizados em sua mesa, mas em arquivos e documentos nos computadores, notebooks, tablets e até smartphones. As tarefas aos estudantes também terão que passar a ser cada vez mais digitais. Que novos recursos ou objetos de aprendizagem poderemos usar – ou até criar – para substituir “o papel do papel” na aprendizagem? O imaginário da nova sala de aula sem papel será um grande desafio.
EdTech é o nome dado ao desenvolvimento e uso da tecnologia para potencializar a aprendizagem. Diversos aplicativos, plataformas e ferramentas de tecnologia educacional já estão ajudando profissionais de educação no contexto da sala de aula da transformação digital. Existem milhares de ferramentas educacionais diferentes, adotadas pelas instituições de ensino, que podem tornar uma aula interativa e atrativa no ensino presencial ou remoto. Mas o professor precisará pesquisar, analisar e ajustar muitas ferramentas para encontrar aquelas que respondem ao seu objetivo de ensino. Estar aberto, dominar e ser capaz de se adaptar a diversas ferramentas e inovações de EdTtech será uma habilidade cada vez mais valorizada no profissional de educação.
Ser um eProfessor ou camaleão de EdTech não significa que profissionais de educação precisam adotar todos os recursos tecnológicos que encontram em seu caminho. Não há problema em desconfiar de alguma ferramenta de vez em quando, pois nem toda solução tecnológica pode funcionar do modo que promete. Tecnologias, aplicativos, plataformas, redes sociais e a própria internet também têm suas desvantagens e será preciso desenvolver um bom conhecimento tecnológico e digital para discernir sobre o funcionamento ou qualidade dos modelos propostos. Além disso, o professor do futuro (cada vez mais “o professor de hoje”) precisará saber como lidar com questões como fake news, cyberbullying e outras ameaças digitais, assim como as diferentes realidades sociais no acesso a novas tecnologias.
Quando se trata do uso de tecnologia, muitos profissionais de educação já estão desatualizados e as mudanças tecnológicas serão ainda mais velozes. É por isso que o professor, desde hoje, também precisará assumir mais o papel de estudante. Aprender a lidar com novas tecnologias – e cada vez mais avançadas. Sim, para muitos professores foi importante aprender até mesmo o básico das novas tecnologias: como instalo esse aplicativo no meu computador? Como formato uma tarefa no Google Classroom? Como compartilho minha apresentação no Zoom? Como faço uma live no Instagram para os estudantes? Muitos professores passaram por diversas aprendizagens básicas sobre novas tecnologias na pandemia. Mas depois de romper barreiras e conhecer o básico do ensino remoto e na volta às aulas em um sistema híbrido físico-digital, será mais fácil partir para novos recursos e ferramentas mais avançadas e conectadas com a revolução digital.
Sobre novos recursos tecnológicos em ambientes de aprendizagem, você profissional de educação já utiliza a fabricação digital na sala de aula ou conhece o conceito de Educação Maker? Acompanhe as redes sociais do Fab Lab Recife para conhecer ou aprender mais sobre metodologias ativas e tecnologias criativas centradas na aprendizagem através do fazer. E sobretudo, saber como se transformar em um Educador Maker e revolucionar a sala de aula do futuro, hoje.
Coordenadora de Tecnologia e Conhecimento do Fab Lab Rec
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